sábado, 7 de janeiro de 2012

Desperdício de uma vida pouco usada.

Aos olhos de Olga, qualquer espaço pequenino entre os cômodos do velho apartamento facilmente se convertia em um refúgio encantador. Ócio era tudo que coloria os dias solitários da moça, então parar em um lugar apertado e pouco cômodo, apetecia perfeitamente à ela. Parava e pensava. Suspirava e se rendia. Se rendia ao brilho no olhar, derivado das nuvens onde sua cabeça batia. Daí o mundo ficava belo, simplório por demais, porém ainda assim extremamente belo. Perdia-se:

'Havia um jardim florido, e Olga acordava cedo todas as manhãs para regar às plantas e passear com o seu cachorro. Uma, duas, três voltas na pracinha miúda e simpática que havia a duas quadras da sua casa. Ela voltava e o moço ainda dormia feito anjo, ela queria beijá-lo, acariciá-lo… Mas tinha receio de acabar com toda a beleza que se fazia presente ali, quando aquele anjo fechava os olhos e descansava por alguns instantes. Ela o apreciava por pouco tempo e resolvia preparar um café-da-manhã digno de um homem tão bondoso quanto aquele, que aceitou dividir sua vida com a da própria Olga. Ele sabia que ela era fria às vezes, sabia que pela manhã os cabelos dela estariam volumosos e sem brilho, sabia que nem todo dia ela iria acordar com um sorriso no rosto. Sabia também, que apesar de ser calma, algum dia ela iria se render a agonia e gritá-lo. Sabia que iriam discutir uma ou muitas vezes, mas ainda assim aceitou ficar ao lado dela por tempo indeterminado. Pra sempre talvez… Enquanto ela tirava o bolo de fubá do forno, o moço aparecia sorridente na porta da cozinha, se aproximava e a tocava os lábios. 
_ Olguinha, meu bem! 
Ele a abraçava e a enchia e beijos. O dia inteiro era passado assim. Transbordando afeto, carinho, alegria… Às vezes assistiam filmes épicos, plantavam flores no jardim do quintal, brincavam com o cachorro e logo teriam um filho. Para ensiná-lo a arte de ser feliz. Sem luxo, sem palácios ou sem fama. Ensinariam ao pequeno como fazer de tudo um motivo para ser feliz.' 

E então o vento fazia os galhos da árvore velha baterem na janela, fazendo barulho suficiente para tirar Olga do seu mundo ideal. Ela despertava do transe de sonho e sorria. Sorria sem nenhum motivo aparente. E seguia sua vida repleta de tédio, recheada de nada. Ela não tinha par, não tinha cachorro, jardim ou filho. Tudo que Olga tinha, era uma mente. Uma mente que vivia perdida dentro de si. Correram-se alguns anos e as tardes da moça sucediam-se da mesma forma. Ocorreu que nas noites ela saía, dançava, tomava um café e voltava para seu apartamento. Mas logo conheceu um moço. Casaram-se, mas não moraram em uma casa com um belo jardim no quintal, não tinham um cachorro, Olga não acordava cedo e filhos não estavam por vir. 
Tanto tempo de sua vida, Olga dedicou a sonhar e agora de que valiam? A ingenua moça achava que sonhar, traria a condição de tornar real em um futuro não muito distante. Equivocou-se. Antes sonho, agora apenas frustração. Mas como toda boa moça com um bom coração, ela ainda deixou uma lição no fim de sua história. 
Um sonho, só será para sempre perfeito, se jamais for concretizado.
Pode até parecer tolice, mas o bonito do sonho é poder sonhar. É se perder em um universo inexistente e saber que, trazê-lo para a realidade não vem com a garantia de que será tão belo quanto em mente.  Mas ela ainda foi feliz, mesmo sem sonhos concretizados. Ela tinha um par e certos aspectos do sonhos até copiaram-se na realidade. Ela tinha afeto, carinho, amor… E seu amado a chamava de Olguinha em algumas manhãs. A moça sonhou, enquanto era tempo de sonhar. E também soube viver, enquanto era tempo de viver. Eis a solução.   

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