sábado, 18 de fevereiro de 2012

Pernas que entram no ritmo da vida.

Pernicioso e incolor
tira pra dançar com fervor
aceita transbordando louvor
adverte: "logo me vou".

Se vais, mas ficou
mera contradança!
Marcha fúnebre tocou
enfeitar também cansa.

Colorir, florir
olhos frios a luzir
pernas nuas a cruzar
destila-se o olhar.

Tempo de dançar
equivoca-se um amar
evoca-se um tentar
mas sabes, precisa declinar.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

As flores de plástico não vivem.

Padecer, eis o fardo
passou do tempo, mas não tardo.
Como vai? O que fazes?
Destilar saudades para fazer as pazes.

Eis o melhor jogador
que não joga com dados, e sim, com dor.
Me esforço, insisto
outrora és tão bom, que desisto.

Ouvir dizer que aposta alto
caso queira, desço do salto
mas deixe-me o ar
nesta festa, ainda há muito o que dançar.

Feito moça, feito palhaço
feito menina, que foi feita mulher
feito quem quer se perder nesse laço
feito quem finge que nada quer.

Parede de Hospício.

És branca, remete à falta
de cores ou de pintores.
És fria, tal como, alta
alicerçada em dores.

Aja lástima
ajam ouvidos
ajam palavras caladas
que não passam de zumbidos.

Pode agradecer

Meu bem, te agradeço
pela porta fechada,
por mentir com apreço,
pela vida flechada.

Falo de toda a atuação,
falo de toda a agonia
no meio-fio da aflição
quando tu me vias e sorria.

E te agradeço mais uma vez
pelas histórias mal camufladas,
pelo bem que tu me fez
crendo que amor, eram estrelas contadas.

Agradeço-te também
por ter ido com o vento,
mal nenhum aqui retém
apenas minh'alma ao relento.

Dispondo de permissão.

Me dou “bom-dia!”, um cafuné
me faço um café…
Me visito, pergunto como estou
minto pra mim, nada mudou.

Me dou um bolo
sem nenhum sabor.
Pairo cega
num mundo incolor.

Preciso explodir meu big-bang
pois um novo começo é urgente,
quisera ser de certo
mas tudo é muito vigente.

E eu, vi gente demais
que evaporaram sem mais.
Não sei se é desespero ou falta de ar,
mas preciso me visitar.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Preces de uma apaixonada prostituta puritana.


Que algum anjo bondoso me traga de volta, a certeza envaidecedora de saber que quando o escuro surgir, a sensatez desaparecerá.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Pingos de solidão.

É chuva para lavar a alma,
chuva para dançar com calma.
É chuva para querer pele juntinha,
mas chove, e eu, estou sozinha.

Sozinha numa roda cheia de gente,
sozinha num mundo tão pertinente.
Estou sozinha, ainda que em outros braços.
Equívoco-me! Busco em outros teus traços.

Buscando olhos que já viram demais,
buscando carinhos que confunde minha paz.
Buscando promessas que se fizeram minhas,
mas chove, e eu, estou sozinha.

Sozinha querendo apenas você,
sozinha me perdendo nesse clichê.
Sozinha querendo refrões ao pé do ouvido,
sozinha desejando o belo moço sumido.

Sumido sabe-se lá porquê.
Sei que sumiu, esqueceu-se de vir me ver.
Quisera ele aparecesse me chamando de pequenininha,
mas apenas chove, e eu, estou sozinha.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Comum da escuridão.

Olhos preciosos se fitam
pernas gélidas se cruzam,
cigarros quentes tragados
toda a sutileza usam.

Mãos túrgidas proibidas
Meu bem, acho melhor irmos devagar!
Adjetivos pairando no ar
desejos ali, à brotar…

Só mais um gole de café
que aquece, mas porque não você?
Entre as paredes há algo a fazer
é noite, a casa está só; apetece ser.

Abrandar-te-ei.
Abrandar-me vais?
Chegue cá e explore!
Explore tudo o que há.
Mas sabes: melhor irmos devagar.

Amiúde.

Meus pés e minhas orelhas não são muito belos, 
não são nada belos, 
mas ainda assim você tocou meus lábios, 
tocando minha alma 
e me falou coisas de amor.

Vez em quando, a felicidade derrama algumas lágrimas.

A felicidade poderia trair esta tristeza, que não tem face, mas tem nome e endereço. Que não me olha nos olhos, mas me ver de todas as formas possíveis, me ver, mas não me enxerga. Nunca quisera me perceber, me cuidar, me dá o deleite de ser chamada de tua… Mas teve o que querias, me teve. Não de todas as formas possíveis, mas da forma que sempre quis a todas as outras. Os refrões poderiam ser compostos de sorrisos, mas me apetece que infelizes-lembranças-felizes os componham. Certas ruas seriam dotadas de beleza, das flores, das cores e dos prédios, mas me apetece que sejam dotadas de passos agridoces, que se confundiram com doçura no meio-termo da avidez. Os dias deveriam ser ensolarados, emanando raios de alegria, mas me apetece que sejam dias chuvosos, que impossibilitam que levantemos da cama e lutemos com mãos fogosas para que a estadia neste palco vão, seja suportavelmente agradável[…] Tudo é questão de se permitir, e digo-te com toda a convicção que me for permitida: Se tu soubesses a dor que causa, jamais se permitiria amar.

Cher.

Tu decidiste voo alçar
e esqueceu-se de me avisar.
Mas se acanhe não
que o lado esquerdo da cama tem bom coração.

Numa noite triste de sexta
contou-me que tu me fez de besta.
Capturou todo o amor deste peito surrado
e deixou foi um frio arretado.

Mas se acanhe não
não partiste meu coração.
Um frio arretado no lado esquerdo da cama…
mas saiba que meu coração ainda ama.

A cama ainda tá fria,
mas se acanhe não!
Apenas lembre de mim como:
‘a menina que sorria’.

A parte mais fácil: o fim.

A ausência era presente,
quem esqueceu da gente?
Fora o jardim que cresceu com demasiada pressa?
ou nos perdemos entre tanta promessa?


Meu corpo ainda se contorce,
à espera do teu.
Minha mente ainda necessita
do pouco que um dia tu me deu.


O som que invade a sala,
deriva de tuas mãos e não cala.
O café, como sempre, amargo
tomado em noites tão sozinha, que largo.


Meu amor, agora póstumo
sem canções, apenas me autoconsumo.
Venha cá, venha me dá um prumo.
Venha cá, venha mostrar-me um rumo.


Tu fostes, sei que não há solução.
Tu fostes, mas a culpa foi minha não.
Quisera ser um quiproquó.
Quisera ainda está no enlace do teu paletó.

Solitário e demodê



A porta é rotatória,
o café é quente.
As paredes são brancas,
e a companhia, inexistente.

Quando finda a paciência.


[...]

Podes encontrar o que bem quiseres.
Mas se quiseres, meu bem,
também podes me encontrar.

Me convide para um café,
vamos relembrar!
Quem sabe, por ventura…
você goste de ficar?!

Fobia a noites solitárias.

A escuridão sempre dominou as noites,
mas vez ou outra certa luz-não-fluorescente emanava.
O frio estava sempre presente,
mas vez ou outra de cobertor não precisava.

Deito-me, remexo-me, fecho-me.
Os olhos e o peito.
Foi-se o amor, foi-se o trejeito.
Foi-se tudo, até o ordinário sujeito.

Escuro e cada vez mais
o corpo frio a soar
Zé, cabou-se a paz
é hora de os olhos abrir e sufocar.

Na precisa precisão de certa mão buscar
na danada decepção de nada encontrar.
Um vazio! Heis tudo que me há.
Cadê o ordinário? Cadê meu ar?

Mesmo assim dormimos.

As flores, antes belas
agora estão despetaladas.
Os homens que “amavam elas”
abandonaram-as peladas.

Os pequenos aquecidos em um útero materno
em esquinas frias choram,
crescem para serem subalternos
e nas ruas, desde sempre, moram.
Mesmo assim dormimos.

O café esfriou,
a vida desandou,
o amor acabou
e as dez ninguém voltou.

Onde está a paz?
É você ou ele que trás?
Enganar-se jamais,
o caos sempre aqui e no cais.
Mesmo assim dormimos.

Mesmos assim esperamos,
mesmo assim, os braços cruzamos
mesmo assim, só por nós choramos…
Mesmo assim amamos?

A melhor (e mais desesperada) fuga.


Me pegue pelos dedos e me tire!
Me tire daqui, me tire pra dançar.
Já que é você, basta me tirar.

À beira de um abismo ridiculamente romântico.

As mãos, antes intangíveis, agora transpiravam rendidas à aflição de encontrar um par. Acabara de descobrir um novo céu; onde nuvens e estrelas perdiam toda a grandiosidade, se comparadas ao sol que se refugiava no castanho-escuro daquele par de olhos estreitos. A calma pegou estrada, levando a sensatez consigo e tudo, simplesmente tudo, caía nos encantos de uma insensata aflição. Outrora haveriam dezenas de coisas capazes de suscitarem o que era esplendor, mas nestes estranhos tempos de amar, a resposta era clara e exclusiva. Doara anos de sua vida a crer que casar era uma bobagem tremenda, e casar por amor, pior seria. Bem mais encantador ganhar o título de amante, afinal era apenas isso. Tanto em namorar, como em casar ou em trair, tudo se resumia a títulos. Sabias que se o sentimento fosse recíproco, títulos seriam desnecessários, pois a fidelidade seria de certo. Não queria alguém para presentear chamando de “marido” e em troca ouvi-lo a chamar de “esposa”. Queria amar, somente isso. Queria mergulhar numa imensidão de amor puro e mundano. E o fazia. Mas pensando por alguns segundos… percorrera um longo caminho até a beira do abismo e não queria que o fosse em vão. A um pé de se render, que mal tão medonho poderia haver lá no fundo? Nunca foi desejar, preferia descobrir. - então disse um suave “sim” ajeitado em sua voz serena, pegou o amado pelas mãos ávidas e juntos, foram desvendar os mistérios desse abismo.

Generalizando à maestria masculina.

Fechava os olhos e se perdia numa das introdução esplêndidas de uma música do Pink Floyd. Desta vez não havia Russian Red para embalar cada lágrima que encontrava, por teimosia, o chão. Desta vez não haviam lágrimas. Sabias que ser boba era equívoco extremo, e tentara de toda alma não o ser. Mas o moço a pegava pela mão, a rodopiava noite adentro. A tocava com cautela, com carinho, talvez… Selava-lhe os lábios e falava em gostar. Entregava madrugadas à conversar com a dama, pedia para que se cuidasse. Iniciava discussões para ganhar beijos por fim. Rendia-se aos meios modernos de comunicação, para sabê-la a todo instante possível. Cantava-lhe belas canções, até mesmo francesas e sempre a olhava nos olhos. Contava quão vital era a aprovação da moça, para sua nova canção seguir gravação. A convidava para lugares extraordinários, ainda que soubesse que ela não poderia acompanhá-lo, mas insistia, pois queria sua companhia. Falava em viagens a sós, sem rumo. Andava com a moça sob seus pés, a sorria, a amava, a fazia mulher. E a dama forte, fez de um tudo para não render-se à aparente romance. Mas com tantos sinais, era inevitável que não ficasse prestes a despencar nesse abismo multicolorido. Pensava estar em segurança, “mero gostar” repetia para si mesma e acreditava em tal. O tempo arrastado levou consigo os rodopios, as canções, as aprovações, os convites, as madrugadas, o corpo envolto em chamas esquentando as madrugadas… Nada restara. Vei-se então um aperto no peito, umas lembranças inadequadas e uma vontade de voltar. Voltar e admitir que gostava e não era pouco, que amava canções ao pé do ouvido e encantava-se tão facilmente pelos toques que deveriam ser proibidos em público… Vei-se a constatação de que gostava e poderia viver muito bem com a falta. Certo que com a presença os dias seriam mais coloridos e amáveis. A moça tentou, e até ousou, crer que apenas gostava, mas depois notou quanta falta sentia e não a culpem. Ela foi mais forte do que todos esperavam. Culpado fora ele que dera todos os sinais de um gostar recíproco, mas foram apenas sinais, nada de certezas.

-


Vais e lembra de fechar a porta. Não, desta vez não irei implorar para que fique e me aqueça em noites fogosas. Decidiste ir, então vais! Mesmo antes do princípio, sempre fui de me render aos encantos da minha sinceridade para comigo mesma e não abdicarei de minhas crenças para segurar o ar dentro de meus pulmões.
Quer me amar? Permito e prometo reciprocidade.
Quer me arrancar sorrisos? Me olhe!
Quer me fazer bem? Fica.
Quer que eu sinta menos? Ah, então vais!

Errar é desumano.

Dei por mim em um cafofo macio, estofado e cheirando a lavanda. Não vi sua cor, tampouco se era belo, mas senti. Senti um aconchego imenso, um desejo de me bordar àquele tecido macio, que não tinha vida própria, mas me passava uma calma indescritível. Senti que ainda iria sentir aquele perfume uma par de vezes, perfumando até mesmo um quarteirão inteiro.
Aquele cafofo meio tropeço e desconcertado, parecia o lugar perfeito para passar o resto da minha vida. Mas apenas parecia. Quando dei por mim pela segunda vez, apenas me vi dentro do abismo.
Equivoquei-me!
Confundi o fundo do poço com refúgio.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Tudo mudou...

O rouge virou blush. O pó-de-arroz virou pó-compacto. O brilho virou gloss. O rímel virou máscara incolor. A Lycra virou stretch. Anabela virou plataforma. O corpete virou porta-seios. Que virou sutiã. Que virou silicone. A peruca virou aplique… interlace… megahair… alongamento. A escova virou chapinha. ‘Problemas de moça’ viraram TPM. Confete virou MMs. A crise de nervos virou estresse. A purpurina virou gliter. A tanga virou fio dental. E o fio dental virou anti-séptico bucal. Ninguém mais vê: O à-la-carte porque virou self-service. A tristeza agora é depressão. O espaguete virou miojo pronto. A paquera virou pegação. A gafieira virou dança de salão. O que era praça virou shopping. A areia virou ringue. O LP virou CD. A fita de vídeo é DVD. O CD já é MP3. É um filho onde eram seis. O álbum de fotos agora é mostrado por e-mail. O namoro agora é virtual. A cantada virou torpedo. E do ‘não’ não se tem medo. O break virou street. O samba, pagode. O carnaval de rua virou Sapucaí. O folclore brasileiro, halloween. O piano agora é teclado, também. O forró de sanfona ficou eletrônico. Fortificante não é mais Biotônico. Polícia e ladrão virou Counter Strike. Fauna e flora a desaparecer. Lobato virou Paulo Coelho. Caetano virou um pentelho. Elis ressuscitou em Maria Rita. Raul e Renato. Cássia e Cazuza. Lennon e Elvis. A AIDS virou gripe. A bala antes encontrada agora é perdida. A violência está maldita. A maconha é calmante. O professor é agora o facilitador. As lições já não importam mais. A guerra superou a paz. E a sociedade ficou incapaz. De tudo. Inclusive de notar essas diferenças. (Luís Fernando Verissímo)