sexta-feira, 27 de abril de 2012

Questão de ser.



Éramos tolos?
Céticos, cínicos?

Éramos dança,
sapiência…
Por descuido ou poesia
às vezes
éramos aconchego.

Éramos subterfúgio
café à meia-noite
meia-noite a desencanto.

Éramos inocência
éramos apenas desejo
Bordado, gracejo.

Éramos sábios
éramos únicos
éramos errrantes
éramos unidos

Éramos verso
poesia
dança
espetáculo
canção
e sinfonia.

Éramos teimosia
desventura
desaventura
[…]

Éramos dois
talvez nós
mas afinal, éramos?

Endireitar.


Faz parte…
Chegar com a sutileza do outono e gestos tão doces.
Servir de alicerce na loucura deste palco vão.
Começar feito ombro amigo que faz questão de está sempre lá.

Faz parte…
Tirar para dançar.
Fazer de meus versos um refúgio.
Plantar em mim repulsa a solidão.
Faz parte, fez parte, fará parte…
Sem muitas intempéries.
Faz questão e ama quando tem nas mãos.

Enfim,
O que faz parte também há de partir.
E nos partir, por fim.

Pós fim.

hei de ficar vazia
para esvaziar
talvez por isso não o queira
a dor já esqueceu-se de doer, afinal.

Escolhe-te.

Repetindo, latindo e é latente. Sinto muito. É uma pena. Mas não hei de me atirar ao rancor. Triste a sentença, mas um dia o mundo vê que a culpa do desamor não é dos mal amados. Não, não vale. Não, não se engane. A dor é intensa demais para ser gasta com meios-amores. O discurso é provido de mesmice, não o farei de certo você já o conhece. O teu sabor é dos melhores, moço. Porém posso escapar à vida sem ele. Afinal, há de ser sempre assim: antes saudade que dor. Prefira desejo a martírio. Sorri, um dia há de passar. 

Todavia dói.

Confiem em seus olhos, eles podem não ver tudo, mas sem dúvidas, mostram tudo. Quero o teu sabor, dizem que meus olhos tratam da denúncia. Todavia não busco dissimular, que mal pode a verdade trazer? Mas não vi apenas beleza. Tens temor demais e justamente pelo que jamais terei. Há de doer, mas dançar nunca fará mal o suficiente. Perdoe-me por não confiar no tempo, faço-me relógio. E logo canso de rimas pobres, de tanta calma e da alma. Creio ter visto encantos fúnebres demais, prolixos, tementes a um Deus que desconheço. Quisera eu, ter força de vontade o suficiente para ter fé em algo além de minhas mãos. Quisera meu peito ser contido o suficiente para encher-se de rancor. Será que a sina do amor é ser para sempre desamado? Não quero tua mão trêmula e dispersa acenando para mim ao longe, quero teus braços fortes e quentes em volta de meu corpo, abrasando-me num abraço com pouco intento. Não vi só beleza e isso me estremeceu. Mas… seria eu a quinta essência do amor? Ah, claro que não. Boba, que delírio tremendo! Amor e beleza sempre me costumaram ser sinônimos. Então repito: nem só beleza eu vi. Cores são belas e camaleões podem ter várias, então camaleões são belos? Rendo-me à dúvida, a menos que o camaleão tenha olhos dissimulados e uma síndrome de Capitu. De fato, me intriga a quantidade de mensagens que posso deixar nas entrelinhas. Eu tentei, mas não há um amor para roubar o teu lugar. Porque me deixaste ver apenas beleza?  

É só mais um clichê, nem vale a pena ler.

A primavera há de chegar, diz o orvalho fresco que se faz mais leve com o passar dos dias. E trata de correr, prepara o jardim que a primavera há de chegar logo. Cuida bem da tua terra, moço. O povo já se cansou de tanta chuva cair, de tanto suor pingar, mas a época de florir traz consigo tanta felicidade! O quintal fica repleto de cores, de flores que chegam para espantar os intempéries. O peito fica espaçoso e tem gente que gosta de sentar no quintal para esperar a visita dos beija-flores. Ah, quanta beleza! O povo enche o peito largo de esperança e dança, mesmo sem a magia do desabe do céu. Mas eu gosto mesmo é de me bordar aos lençóis frios do quarto pequeno, com paredes cegas que não tem histórias para contar. Nessa época a única opção é se trancar no vazio de casa e nem ousar deixar o olhar escapar pra ver tantas cores. O querubim gosta de vir à minha janela pra admirar o jardim que passo o ano inteiro cultivando, mas que nem aprecio quando decides florir. Mas o que posso fazer se o querubim vem trazer você pra mim? O que posso fazer se você não quer vim? Tudo que me resta é me trancar num quarto apertado demais pra guardar memórias e frio demais pra pensar em ti. Talvez ainda ajam motivos para chorar por um amor que acabou, mas eu prefiro sorrir. Por isso enquanto o povo se prepara podando terras e abrandando corações, eu procuro as cortinas mais coloridas para enfeitarem minhas paredes, já que não poderei ver as cores que enfeitaram o meu jardim. Amo flores, amo você. Mas afinal, assim é a vida, não é? Feita de abdicar do que amamos para ver se conseguimos nos amar. Quanta tolice, escrever sobre a primavera que me trás você. Que nada, engano. Seja inverno, verão, outono ou primavera, minha estação é sempre você.  

Caso quisesse não mais querer.

Ah, você! Você que não é o grande amor da minha vida, mas que me tocou e me cuidou como se o fosse. Que me fez mais mulher e mais frágil. Você que me doou mais um ponto fraco e que escreveu para mim, como se ousasse me querer por mais tempo do quê o que quis de fato. Acho que não te amo, não sei. Sei que meus olhos desaguam por ti, sei que quando vais te quero de volta, sei que te que quero por perto ainda que não faça de meu colo um refúgio ou me encha de beijo. Sei que teu perfume insiste em impregnar-se em minhas narinas repletas de saudades. Sei, por observação alheia, que tudo que faço é de coração. E se te dei coisas boas, foi porque me senti à vontade para fazê-lo. Mas talvez essas coisas tantas, fossem apenas tontas para ti. Eu não te conheço assim tão bem, eu não sei dos teus segredos, dos teus medos ou do teu pódio. Sei que te quero assim misterioso, belo, com olhos de cachorro e toque jeitoso. É uma maldita noite repleta de solidão, e eu, só queria você para me pegar pela mão.

Camaleão infiel com olhos de cachorro.

Metamorfosear-se és a lei? À princípio olhos tranquilos que lhe traduzem a tal “plenitude” inatingível. Pés dispostos a servirem de suporte e refúgio para teus intempéries. Pés dispostos a se renderem à danada dança da vida que colore ruas/cidades/mundos. À princípio mãos piedosas que te guardam sã e salva, e ainda permitem que alguns afagos escapem. Dedos jeitosos para tocar-lhe os cabelos. Lábios calorosos decididos a dividirem o esplendor contigo, tocando-te a boca e o ventre. À princípio moço bondoso com peito inquieto, clamando por um par. À princípio valor, beleza e coragem. A findar olhos que te queimam a pele deixando marcas irreparáveis, olhos que de antes paz, agora são apenas martírio. Pés que te pisam num massacre árduo e doloroso, porém prazeroso, por ainda sentir sua pele. A findar mãos que deveriam almejar te asfixiar até sucumbir numa morte lenta em mãos amadas, mas que apenas não mais buscam acalentar teu desespero. Lábios que se metem a gracejar com outros lábios, que não são teus. A findar moço de coração frígido, corpo quente, porém distante. A findar refúgio no vulgar, peito a esperar qualquer medíocre razão para palpitar ou dar palpite. 

domingo, 8 de abril de 2012

sábado, 7 de abril de 2012

Refugiar-se.

Eu sei que a coisa tá preta, que o dia tá escuro e à noite tende a vir eclipse. Eu sei que o amor tá caro, que dançar é raro. Sei que a música está ao longe, que o espelho quebrou e beleza alguma restou. Mas venha ser meu. Eu sei que a casa é apertada, que o peito é surrado e já deve ter dona, mas venha ser meu. Eu sei que há medo do desengano, do desamor, do excesso ou da falta. Sei que tens problemas, sei cada um deles. Sei nossa primeira discussão, nossa primeira reconciliação, sei nossa casinha simples, nosso jardim florido de dentro pra fora. Sei do perigo, mas também sei do abrigo. Sei de tanto, como sei que falta-me saber muito. Mas venha ser meu. Venha sem medo. Venha sem máscaras. Venha de peito aberto. Venha porque quer ou venha porque o quero. Eu sei que periga cairmos no precipício da infelicidade, eu sei, mas mãos unidas combatem qualquer maldade. Eu sei que periga a gente ser feliz, eu sei que assusta, mas diga-me que nunca quis. Deixe de se prender a amor-náufrago e venha logo ser meu. Confesso: meus sorrisos serão teus, teus medos serão meus. Meus, teus, nossos… Venha, venha logo, venha com pressa, venha sem peso. Venha alçar voo, venha se libertar de tudo que um dia ousou, ao chão te enraizar. Venha ser leve, livre. Venha ser feliz. Venha ser meu. 

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Amanhã


Quisera ser uma quimera
foste nem um terço de era
quisera render-se à espera
agora és o que não era.

Encantar-se-ia em ser refém
de lar ou de arem
encantar-se-ia com um amém
que poderia vir, mas não vem.

Todavia não belo.



lua
dois pares (de pés)
acelerados;
acalentados;
perturbados;
enraizados.
floridos
coloridos
a colorir
Estrelas
céu ensolarado
estrela
longe, ao meu lado
brisa perfumada
coração dilacerado
(acelerado)
parado [?]
parando… 

Fazer-se Presente.

Se você vê passaporte para o infortúnio, teimo em contrariar tal ideia equívoca e afirmar que é de formosura e graça que se constroem tais sentimentos. Pois acho bom estás ciente de que o fim não retira a beleza incontestável de presenciar [de fato] tantas experiências. Que as lágrimas a escorrer da cachoeira dos olhos, não apagam os sorrisos pintados há algum tempo. Que as mãos calmas e o corpo frio, não somem com as antigas mãos trêmulas e calor doado. Tampouco as comédias românticas findam com os belos filmes que coloriam domingos. As lágrimas, o fim, o desconforto e o desengano estão todos aí [e aqui], meu caro. Mas enquanto tu clamas injustiça e arrependimento, eu sorrio e espero ansiosamente pelo meu próximo par. E hei de confessar que às vezes também desejo, que este, venha para ficar. 

Dúvidas da pele


Arrepio
Desvio
Sombrio ou tardio?

Pálida
Gélida
Nua ou crua?

Perceptível [não]adeus.


sutileza
e sutilmente
tudo surge,
pouco passa
e logo surta

sutileza
implorando por um sim
lascivo desejo
crer jamais ter fim

sutileza
para apagar.
sumindo
da vida,
sumindo
com a sutileza.

Detalhe

Paladar atento. Gravaste bem o teu gosto, menino. Agora diga-me onde estás, talvez eu não te queira tanto assim, mas o teu gosto ainda quero para mim. Sabor perfumado, colorido, estalado. Não te enganes com lábios, quero o teu sabor, menino. Aquele sabor que mal provei, mas logo amei. Aquele aroma que pouco senti, mas por muito clamei. Desejo-te sob o despudor, envolto em chamas, com o olhar transparecendo intenção, cheio de palavras sábias, mãos atentas e claro, com teu gosto colorido. Volte logo, menino. Volte que meu paladar clama pelo teu sabor. Não me deixe a esperar, por favor.

Cegar-se.


Os fins,
sem nada de afins
sabem mais que clarins
que eles não têm fins.

E nós,
tolos e sós,
sufocamos
com nossos próprios nós.

Rodopiamos,
enquanto piamos
sabendo que findamos
sem o que damos.

Querendo, fazendo
sentindo, dizendo
acreditando, podendo
e perdendo
e morrendo…

Clichê Conto Escasso.


O sol batia na janela e anunciava feito trombone que era hora de levantar. Ana pulava da cama e ainda em vestes de dormir, corria com olhos apertados para o seu pequeno jardim.
 Enfincava-se num pneu suspenso por cordas, que servia de balanço e rodopiava, balançava, sorria e os olhos brilhavam. Um, dois, três… sete rodopios. Quando chegara num giro rápido demais para ser contado, mas o suficiente para deixá-la tonta, deparou-se com um vulto de menino-moço em roupas bem postas. Ela parou, ele a olhou, ela sorriu, ele a cortejou, ela estremeceu, ele se aproximou, ela fugiu, ele a esperou. 
 E esperou enquanto ela se escondia da vã possibilidade de amor. Encostada na porta pensava no que fazer, para onde correr e no constrangimento de ser vista por moço tão nobre com aquelas vestes medíocres. Ela abriu a porta com receio, enquanto ele a olhava com um encanto absurdo que escapava pelo brilho no olhar. 
_ Ô Ana, porque fugistes de mim?
A moça ficou vermelha, se sentou num canto estreito do jardim e juntou as mãos em volta de seus joelhos. 
_ Olhe-me e digas que não sabes!
Ele acatou tais ordem e a olhou. 
_ Ouso dizer que não vejo motivos. 
E aquelas palavrinhas poucas e sinceras pareciam carregar alguma luz extremamente radiante para a mocinha. Ela enterrou a cabeça nos próprios joelhos, ele sentou-se lentamente ao seu lado e tocou os cabelos emaranhados da menina. Ao sentir tal toque ela pode conhecer às tão famosas borboletas que gostam de visitar estômagos. Levantou a cabeça aos pouquinhos e o olhou com medo. Não medo do moço, mas sim, medo do que sentia, inundada no desejo que ali surgia.
 Olhos já haviam se encontrado, mãos ela fez se encontrarem. Sorriram, desbravaram, admiraram e se amaram. [mas nada sabe-se do felizes para sempre]

Há de dissimular o dia
e com cobertas
clamar que é noite.
Crer que escuridão é opção
e clamar, açoite.

Há de desbravar veredas
que não se arriscam ao verde.
E falho estopim
adiará o fim.

Ausência


Engaiolei meu receio 
e aqui estou, após tanto anseio.
Perdoe-me por chegar sem avisar,
entrar sem convite ganhar.

Notei que muito mudaste,
aos devaneios tu alaste.
Outrora és a lástima que me consome,
mas vim aqui para lembrar-te do meu nome.  

Algo perdi por entre tanta promessa
perdi, pois tive de sair depressa. 
Cá estou para perguntar-te: 
viu algo que possa de mim lembrar-te? 

Perdoe-me, não posso detalhar
afinal, não tenho o que falar. 
Não sei o que está a falhar,
mas sinto falta de um certo pulsar. 
É… Bem aqui.
Triste tratar com desdém 
quem um dia lhe quis bem.
Rodopios e clarim,
calafrios no jardim.
Sorriu, de certo não para mim.
Sumiu, mas não era o fim.

Estopim.

Desejara tanto o meu batom, ser mais importante que o toque dos teus lábios. Preservar as sutis cores de minha boca, e por consequente preservar-me de futuros infortúnios. E as mãos… Ah! Estas deveriam ser intangíveis por lei. Com aquele suor que escorre das entranhas e pinga na pele macia que acalma, com o desbravar de terras tão miudinhas que escondem tantos tesouros. O carnaval já passou, meu bem. Findou o tempo do seja-lá-o-que-for, use daquelas tantas palavras. Triste é saber que sempre haverão estas páginas cada vez mais  amareladas para despertarem em mim essa nostalgia tão filha da mãe. Agora eu penso em desistir, mas sei que a noite vai chegar e eu, vou esquecer de mim. E sufocar no emaranhado de lençóis que exalam o teu perfume, e assolar estas malditas terras memoráveis que fizeram morada na minha mente. Olhos, ombros, fios e pés. Pés que esfriam quando deveriam esquentar. Olhos que veem tudo, mas não me enxergam. Ombros que insistem em me encarar. Fios que se bagunçam sem o meu toque sutil. Toque que acha que finge que nada quer, toque bobo que evidencia tudo que deveria camuflar. Teus ombros, como sempre me fitando, exclamaram para que eu fosse embora, para que eu desbravasse outros territórios, que teu coração [por mais que não parecesse] há muito havia sido encontrado. Teimosia. Fiquei. Mas não porque necessitava do brilho dos teus olhos ou das tuas declarações forjadas. Fiquei, pois precisava ficar. Pois algo que escapa à margem das explicações cabíveis fixou minhas raízes neste solo daninho e infértil. Me mandaste ir, mas fiquei. Porém não se engane, isso não quer dizer que eu te amei. A única certeza que tenho é a de que o meu batom borrei, mas minha alma não desmanchou.



Luz. Girassol. Girar. Despetalar. Bem-me-quer. Mal-me-quer. Bem-me-quer. Mal-me-quer. Mal lhe quer. Sorrir. Feliz. Afinal, lhe quer assim.