domingo, 10 de junho de 2012


Não passa de saudade.


Cigarros 
Queimam saudades
Queimam vaidades
Só não queimam você.
Escuro
Feito para te iluminar
Feito para me iluminar
Mas você não me vê.

Melodias
Tocadas em violões
Ou em salões
Só não tocam você.
Aurora
Exibindo cores
Exalando rumores
Não me amanhecem em você.
Agonia
Minha ou não
A causa não tem visão
E você não me vê.

Vulto

Na leveza do abrir de olhos pesados há alguma inconstância precipitada, há algo que de tão rápido surgimento, acaba se tornando apenas pressa mal interpretada. Ora pressa de ficar, ora de ir. No aflito desejo de descobrir o que os olhos fitam rápido demais para a consciência interpretar, num jogo apressado sobre erro ou acerto, brota a hipótese quase sempre falha. Falha o meio, falham os fins. E agonia maior é demorar tempo demais para perceber que a impressão que teve de rápida visão, não é aquilo que se pensava. É aceitável um erro passageiro por falta de consciência, mas uma existência errônea é no mínimo desesperadora. Se inventar de rápidos espasmos de imagens distorcidas numa mente pouco sabida, só trará desagrado. O engano é inevitável, todavia menos doloroso, quando não dura tempo suficiente para virar parte da gente.

E isso porquê?

Meus versos
Clichês
Esvoaçam para você
Escondem você
Mas você não os lê.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Repleto de Vazio.


Perdeu os movimentos
nunca mais pulsou
nunca mais dançou.
Recuperou o foco
felicidade desde então;
nunca mais saiu do ritmo.

Sem remetente, sem sentimento,


Seu sacrifício
É mais fácil [e mais meu] do que parece.
Os sonhos de verão
Devem dançar na aurora da primavera.
E tu, terás de envolver-se nos braços
De bela fera.
Os ventos que vem do leste devem passar
As folhas secas de árvores velhas
Devem encontrar ao chão.
Teu martírio há de passar ao encontrar
Algo caído, murcho, desfeito…
Tu [eu, nós] hás de buscar uma forma singela
Para dissimular e, ao mesmo tempo,
Acalentar vosso desespero.
E eu [assim na solidão] devo acalmar
O que de mais aflito tenho.
Feche os olhos, querido.
Sinta essa doce brisa acetinada
Que tenta tocar-te a alma.
Permita-se, ao menos uma vez.
E veja, sem medo, angústia ou temor:
Seu sacrifício sou eu.

Divina Luxúria.


Sempre hão haver dois, três, quatro ou mil motivos para não mais voltar a cometer antigos “erros”. Erros tais que só são errados aos olhos alheios e à minha própria consciência. Consciência esta que se resume a nada, quando resolve entrar numa disputa com os danados sentimentos. Mas lembre-se: sentimentos nem sempre tem algo haver com amor, ódio ou plenitude. Há o desejo, que faz tudo se confundir. Talvez seja amor, talvez seja reparo… mas e se for apenas desejo? Ah! E render-se ao quiproquó da luxúria; satisfazer ao corpo, enquanto a alma estás jogada ao relento. E se ousasse cuidar da alma, ao invés do corpo? E se decidisse usar outro sentimento? E se decidisse desistir do que inevitavelmente findará como angústia (se já não a é)? E se largasse dessa mania boba de criar hipótese para tudo? Questionamentos finitos para sentimentos infindos. Pessoas medíocres para danças majestosas. Coitados equívocos desejando que abraços sejam contratos. Arrebatador e latente descobrir quanta beleza a simplicidade pode refugiar. Triste e insano descobrir que paredes, convertidas em relicários, trancafiam pecados.

sábado, 26 de maio de 2012

Bailar com Asas de Ilusão.


Luzir, moço.
Com olhos singelos
E peito não mais frígido.
Frigidez, agora apenas aconchego.

Na quietude de todas as noites
Tão mornas
Tão solitárias
Tão noites, afinal!
Você me vem quiçá sinal.

Permitir captar as ondas sonoras
De tamanho desprazer tão prazeroso
Falas alheias apaziguadas
Na sanidade de timbre tão novo.

Olhando para passos invisíveis
Pois os mais valiosos não usam de visibilidade.
E é assim, moço…
Nessa dança cega e insana que permito envolver-me
Nessas ruas quentes com histórias frias
Que ouço o texto tão teu emoldurado em voz alheia.

Todavia, sempre a lembrar:
A lei é sorrir,
Pois a qualquer hora
Pode-se encontrar outro par
E então saberás que é hora.
É hora de recomeçar a dançar.

Prepotente Inconformidade


Qualquer
‘‘Anywhere’’
Numa esquina qualquer
Onde não mais me quer

Num lugar estreito com alguém
Porque não mais me tem?
Imerso num quiproquó tamanho
Rendo-me a braços de estranhos.

Sim, minha porta continua aqui
Talvez não aberta
Mas batas, sabes que eu hei de sair
Afinal, o que mais fazer quando a saudade aperta?

Aperta
Qualquer coisa aperta
Agora a falta. Da falta, por ventura.
Agora alguém sem o fardo de nome tão comum
Me aperta.
Trágico! Porque mesmo não despertas?

Moço, a vida vai além…
Além dos talentos
Dos desalentos
Dos martírios
Das alegrias…

A vida vai,
Mais vida vem.
Mas para irmos além,
Quando você vem?

Dança da Tolice.

A verdade, por mais que me doa dizê-la, é uma só:
sempre te quis de volta.
Talvez até quando ainda te tinha (se é que tinha).
Um dia sem tuas palavras pouco sabidas
e eu já sabia que te queria de volta.
De volta nas minhas madrugadas repletas de leite, livros e solidão.

Uma semana de viagem sem aviso prévio
e eu te quis de volta, mesmo achando que não mais me querias.

Errei, enlouqueci, talvez… Mas não foi culpa minha.
Tampouco tua.
Não que precisemos de um culpado,
mas o destino é sempre uma boa opção.

Trinta meros minutos de silêncio
e eu já te queria de volta.
E eu sempre te quis de volta,
mesmo antes de saber para onde deverias voltar…

Um instante de distração em rosto ou fala alheia
e eu te queria de volta.
E eu te quis, sempre à minha volta.

Mas sei que tu não és de realizar desejos alheios
e é assim, na interminável teimosia do teu egoísmo clichê,
que insanamente eu sempre te quero de volta.

Mais Um.

Aí você estufa o peito remendado, cheio de falso orgulho, e diz com toda a convicção que ele já é passado. E pior, você realmente acredita nisso. Tempo de renovar. Rever. Refazer, mas não o que já foi feito. E então descobres, numa noite solitária de sábado impiedoso que tal indagação era ilusão da tua mente pouco sã, descobres que ele ainda está abrigado em cada verso, em cada refrão… Abrigado no teu peito… Aí as palavras somem e você até tenta escrever algo para sumir da tamanha aflição que acaba de tomar conta de você, mas como disse: as palavras somem. Sorrisos sumiram. Você sumiu. As lembranças ficaram. Eu fiquei.

Feito sem asas, mas feito pra voar.

Veio sem remetente
Findou algo insanamente latente
Escapou pela tangente
Logo doente

Estranhamente são
Demente mente
Tanto almejara gritar “não”
Negar com boca e aflição.

Possessa possuída
Por algo que não pode ter
Tola distraída
Desejando ter o que sequer vê.

Lápide absurdamente inútil
Para que raios epitáfio,
Quando há pele e peito fútil?

Desejar bordar-se
Pois nunca mais choraste.
O que possui volta
E volta, para nunca mais ter de voltar.

Sim, sabes… irá voltar
Mas agora é época…
Agora é época de voar.

Desumanizar para ser humano.


Os astros hão de ter alguma grandiosidade intangível
Enquanto as pessoas são feias e frias demais para o que é grandioso,
A natureza é em demasia encantadora
As pessoas (algumas delas) hão de ter cores
Mas jamais o encanto da natureza.
Os sentimentos podem ser absurdamente corajosos ou covardes
E esses sim, podem estar num grau de igualdade com as pessoas.
Ora covardes, ora astuciosos.

Mas a vida?
Ah! Essa vida mesquinha…
Não há meio-termo
Essa vida é humana demais para ser feliz.

Clichê, que como todos, correm para você.


Ô moço, quanta bobagem!
Achas mesmo que nessa tamanha viagem
não sei de tamanho quiproquó
que é ousar render-me a com ti ser nó?

É só tropeço,
sem endereço.
Te mereço,
mas não tenho apreço.

Saber não me impede de ser
ser também não me impede de saber.
Sei que tu já não me queres
se é que um dia o ousou fazer.

Saber não me impede de sentir
mesmo que eu tenha que viver sem ti.

Sufoco, rimas pobres
e a crença, todavia equívoca, de que algum dia
nas minhas entrelinhas tu se descobres.

sábado, 5 de maio de 2012

Falta da falta de você.





Você disse que sentimentos valem mais que promessas. E logo quebrou as promessas, porém acho que se esqueceste de sufocar os sentimentos, até que estes resolvessem me deixar. Sozinha, todavia intacta. Logo eu, que tu sabes o quanto detesto a solidão, cá estou implorado para que ela mesma, tão temida, roube o lugar de meias-paixões. Meu colo já não é mais teu refúgio, menino. Tu já não és mais meu poço de confissões. Já não sou mais tem bem, porém ainda me tens. Não querer, não é poder não ter. Doar-se sem remetente, carrega uma mágoa que escapa pela tangente. Tem gente querendo ter, o que és teu por direito. Mas se cuidas de esquerda, logo virá à perda. Tento com os olhos entregar-te o passaporte, mas não me enxergas. Piscar de olhos, a vida [que não é vida] clama por mim, e eu, preciso atendê-la. Por onde andará teus largos ombros, tua pele inconstante, teu peito intangível? Mas é sempre a pior das dúvidas que me consome, feito o cigarro que se finda entre teus dedos. Por onde raios andará a tão sublime repulsa que costumava vir a mim quando o assunto raramente era você?

Luzir.

A lua em seu pertinente estado de beleza invade o quarto pela fresta difusa da janela velha. E será que é de lá, desse astro distante, que brota a luz nessa escuridão infinda que se tornaram os dias e o quarto com a noite e a ausência de eletricidade. Preciso de novas esquinas, mas vai que a nova esquina é perto da tua nova moradia? Mas vai que tu me contaste todos os teus segredos e eu sequer notei? Sabes que mistério planta instiga, e para um subterfúgio desesperado de fazer brotar desamor, acabar com o encanto tenha sido o que de melhor encontraste! Sinto não ser das mais falantes, qualquer luz sou eu. Luz no fim do túnel, luz que te chama, luz na escuridão ou uma dessas lâmpadas fosforescente quaisquer.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Questão de ser.



Éramos tolos?
Céticos, cínicos?

Éramos dança,
sapiência…
Por descuido ou poesia
às vezes
éramos aconchego.

Éramos subterfúgio
café à meia-noite
meia-noite a desencanto.

Éramos inocência
éramos apenas desejo
Bordado, gracejo.

Éramos sábios
éramos únicos
éramos errrantes
éramos unidos

Éramos verso
poesia
dança
espetáculo
canção
e sinfonia.

Éramos teimosia
desventura
desaventura
[…]

Éramos dois
talvez nós
mas afinal, éramos?

Endireitar.


Faz parte…
Chegar com a sutileza do outono e gestos tão doces.
Servir de alicerce na loucura deste palco vão.
Começar feito ombro amigo que faz questão de está sempre lá.

Faz parte…
Tirar para dançar.
Fazer de meus versos um refúgio.
Plantar em mim repulsa a solidão.
Faz parte, fez parte, fará parte…
Sem muitas intempéries.
Faz questão e ama quando tem nas mãos.

Enfim,
O que faz parte também há de partir.
E nos partir, por fim.

Pós fim.

hei de ficar vazia
para esvaziar
talvez por isso não o queira
a dor já esqueceu-se de doer, afinal.

Escolhe-te.

Repetindo, latindo e é latente. Sinto muito. É uma pena. Mas não hei de me atirar ao rancor. Triste a sentença, mas um dia o mundo vê que a culpa do desamor não é dos mal amados. Não, não vale. Não, não se engane. A dor é intensa demais para ser gasta com meios-amores. O discurso é provido de mesmice, não o farei de certo você já o conhece. O teu sabor é dos melhores, moço. Porém posso escapar à vida sem ele. Afinal, há de ser sempre assim: antes saudade que dor. Prefira desejo a martírio. Sorri, um dia há de passar. 

Todavia dói.

Confiem em seus olhos, eles podem não ver tudo, mas sem dúvidas, mostram tudo. Quero o teu sabor, dizem que meus olhos tratam da denúncia. Todavia não busco dissimular, que mal pode a verdade trazer? Mas não vi apenas beleza. Tens temor demais e justamente pelo que jamais terei. Há de doer, mas dançar nunca fará mal o suficiente. Perdoe-me por não confiar no tempo, faço-me relógio. E logo canso de rimas pobres, de tanta calma e da alma. Creio ter visto encantos fúnebres demais, prolixos, tementes a um Deus que desconheço. Quisera eu, ter força de vontade o suficiente para ter fé em algo além de minhas mãos. Quisera meu peito ser contido o suficiente para encher-se de rancor. Será que a sina do amor é ser para sempre desamado? Não quero tua mão trêmula e dispersa acenando para mim ao longe, quero teus braços fortes e quentes em volta de meu corpo, abrasando-me num abraço com pouco intento. Não vi só beleza e isso me estremeceu. Mas… seria eu a quinta essência do amor? Ah, claro que não. Boba, que delírio tremendo! Amor e beleza sempre me costumaram ser sinônimos. Então repito: nem só beleza eu vi. Cores são belas e camaleões podem ter várias, então camaleões são belos? Rendo-me à dúvida, a menos que o camaleão tenha olhos dissimulados e uma síndrome de Capitu. De fato, me intriga a quantidade de mensagens que posso deixar nas entrelinhas. Eu tentei, mas não há um amor para roubar o teu lugar. Porque me deixaste ver apenas beleza?  

É só mais um clichê, nem vale a pena ler.

A primavera há de chegar, diz o orvalho fresco que se faz mais leve com o passar dos dias. E trata de correr, prepara o jardim que a primavera há de chegar logo. Cuida bem da tua terra, moço. O povo já se cansou de tanta chuva cair, de tanto suor pingar, mas a época de florir traz consigo tanta felicidade! O quintal fica repleto de cores, de flores que chegam para espantar os intempéries. O peito fica espaçoso e tem gente que gosta de sentar no quintal para esperar a visita dos beija-flores. Ah, quanta beleza! O povo enche o peito largo de esperança e dança, mesmo sem a magia do desabe do céu. Mas eu gosto mesmo é de me bordar aos lençóis frios do quarto pequeno, com paredes cegas que não tem histórias para contar. Nessa época a única opção é se trancar no vazio de casa e nem ousar deixar o olhar escapar pra ver tantas cores. O querubim gosta de vir à minha janela pra admirar o jardim que passo o ano inteiro cultivando, mas que nem aprecio quando decides florir. Mas o que posso fazer se o querubim vem trazer você pra mim? O que posso fazer se você não quer vim? Tudo que me resta é me trancar num quarto apertado demais pra guardar memórias e frio demais pra pensar em ti. Talvez ainda ajam motivos para chorar por um amor que acabou, mas eu prefiro sorrir. Por isso enquanto o povo se prepara podando terras e abrandando corações, eu procuro as cortinas mais coloridas para enfeitarem minhas paredes, já que não poderei ver as cores que enfeitaram o meu jardim. Amo flores, amo você. Mas afinal, assim é a vida, não é? Feita de abdicar do que amamos para ver se conseguimos nos amar. Quanta tolice, escrever sobre a primavera que me trás você. Que nada, engano. Seja inverno, verão, outono ou primavera, minha estação é sempre você.  

Caso quisesse não mais querer.

Ah, você! Você que não é o grande amor da minha vida, mas que me tocou e me cuidou como se o fosse. Que me fez mais mulher e mais frágil. Você que me doou mais um ponto fraco e que escreveu para mim, como se ousasse me querer por mais tempo do quê o que quis de fato. Acho que não te amo, não sei. Sei que meus olhos desaguam por ti, sei que quando vais te quero de volta, sei que te que quero por perto ainda que não faça de meu colo um refúgio ou me encha de beijo. Sei que teu perfume insiste em impregnar-se em minhas narinas repletas de saudades. Sei, por observação alheia, que tudo que faço é de coração. E se te dei coisas boas, foi porque me senti à vontade para fazê-lo. Mas talvez essas coisas tantas, fossem apenas tontas para ti. Eu não te conheço assim tão bem, eu não sei dos teus segredos, dos teus medos ou do teu pódio. Sei que te quero assim misterioso, belo, com olhos de cachorro e toque jeitoso. É uma maldita noite repleta de solidão, e eu, só queria você para me pegar pela mão.

Camaleão infiel com olhos de cachorro.

Metamorfosear-se és a lei? À princípio olhos tranquilos que lhe traduzem a tal “plenitude” inatingível. Pés dispostos a servirem de suporte e refúgio para teus intempéries. Pés dispostos a se renderem à danada dança da vida que colore ruas/cidades/mundos. À princípio mãos piedosas que te guardam sã e salva, e ainda permitem que alguns afagos escapem. Dedos jeitosos para tocar-lhe os cabelos. Lábios calorosos decididos a dividirem o esplendor contigo, tocando-te a boca e o ventre. À princípio moço bondoso com peito inquieto, clamando por um par. À princípio valor, beleza e coragem. A findar olhos que te queimam a pele deixando marcas irreparáveis, olhos que de antes paz, agora são apenas martírio. Pés que te pisam num massacre árduo e doloroso, porém prazeroso, por ainda sentir sua pele. A findar mãos que deveriam almejar te asfixiar até sucumbir numa morte lenta em mãos amadas, mas que apenas não mais buscam acalentar teu desespero. Lábios que se metem a gracejar com outros lábios, que não são teus. A findar moço de coração frígido, corpo quente, porém distante. A findar refúgio no vulgar, peito a esperar qualquer medíocre razão para palpitar ou dar palpite. 

domingo, 8 de abril de 2012

sábado, 7 de abril de 2012

Refugiar-se.

Eu sei que a coisa tá preta, que o dia tá escuro e à noite tende a vir eclipse. Eu sei que o amor tá caro, que dançar é raro. Sei que a música está ao longe, que o espelho quebrou e beleza alguma restou. Mas venha ser meu. Eu sei que a casa é apertada, que o peito é surrado e já deve ter dona, mas venha ser meu. Eu sei que há medo do desengano, do desamor, do excesso ou da falta. Sei que tens problemas, sei cada um deles. Sei nossa primeira discussão, nossa primeira reconciliação, sei nossa casinha simples, nosso jardim florido de dentro pra fora. Sei do perigo, mas também sei do abrigo. Sei de tanto, como sei que falta-me saber muito. Mas venha ser meu. Venha sem medo. Venha sem máscaras. Venha de peito aberto. Venha porque quer ou venha porque o quero. Eu sei que periga cairmos no precipício da infelicidade, eu sei, mas mãos unidas combatem qualquer maldade. Eu sei que periga a gente ser feliz, eu sei que assusta, mas diga-me que nunca quis. Deixe de se prender a amor-náufrago e venha logo ser meu. Confesso: meus sorrisos serão teus, teus medos serão meus. Meus, teus, nossos… Venha, venha logo, venha com pressa, venha sem peso. Venha alçar voo, venha se libertar de tudo que um dia ousou, ao chão te enraizar. Venha ser leve, livre. Venha ser feliz. Venha ser meu. 

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Amanhã


Quisera ser uma quimera
foste nem um terço de era
quisera render-se à espera
agora és o que não era.

Encantar-se-ia em ser refém
de lar ou de arem
encantar-se-ia com um amém
que poderia vir, mas não vem.

Todavia não belo.



lua
dois pares (de pés)
acelerados;
acalentados;
perturbados;
enraizados.
floridos
coloridos
a colorir
Estrelas
céu ensolarado
estrela
longe, ao meu lado
brisa perfumada
coração dilacerado
(acelerado)
parado [?]
parando… 

Fazer-se Presente.

Se você vê passaporte para o infortúnio, teimo em contrariar tal ideia equívoca e afirmar que é de formosura e graça que se constroem tais sentimentos. Pois acho bom estás ciente de que o fim não retira a beleza incontestável de presenciar [de fato] tantas experiências. Que as lágrimas a escorrer da cachoeira dos olhos, não apagam os sorrisos pintados há algum tempo. Que as mãos calmas e o corpo frio, não somem com as antigas mãos trêmulas e calor doado. Tampouco as comédias românticas findam com os belos filmes que coloriam domingos. As lágrimas, o fim, o desconforto e o desengano estão todos aí [e aqui], meu caro. Mas enquanto tu clamas injustiça e arrependimento, eu sorrio e espero ansiosamente pelo meu próximo par. E hei de confessar que às vezes também desejo, que este, venha para ficar. 

Dúvidas da pele


Arrepio
Desvio
Sombrio ou tardio?

Pálida
Gélida
Nua ou crua?

Perceptível [não]adeus.


sutileza
e sutilmente
tudo surge,
pouco passa
e logo surta

sutileza
implorando por um sim
lascivo desejo
crer jamais ter fim

sutileza
para apagar.
sumindo
da vida,
sumindo
com a sutileza.

Detalhe

Paladar atento. Gravaste bem o teu gosto, menino. Agora diga-me onde estás, talvez eu não te queira tanto assim, mas o teu gosto ainda quero para mim. Sabor perfumado, colorido, estalado. Não te enganes com lábios, quero o teu sabor, menino. Aquele sabor que mal provei, mas logo amei. Aquele aroma que pouco senti, mas por muito clamei. Desejo-te sob o despudor, envolto em chamas, com o olhar transparecendo intenção, cheio de palavras sábias, mãos atentas e claro, com teu gosto colorido. Volte logo, menino. Volte que meu paladar clama pelo teu sabor. Não me deixe a esperar, por favor.

Cegar-se.


Os fins,
sem nada de afins
sabem mais que clarins
que eles não têm fins.

E nós,
tolos e sós,
sufocamos
com nossos próprios nós.

Rodopiamos,
enquanto piamos
sabendo que findamos
sem o que damos.

Querendo, fazendo
sentindo, dizendo
acreditando, podendo
e perdendo
e morrendo…

Clichê Conto Escasso.


O sol batia na janela e anunciava feito trombone que era hora de levantar. Ana pulava da cama e ainda em vestes de dormir, corria com olhos apertados para o seu pequeno jardim.
 Enfincava-se num pneu suspenso por cordas, que servia de balanço e rodopiava, balançava, sorria e os olhos brilhavam. Um, dois, três… sete rodopios. Quando chegara num giro rápido demais para ser contado, mas o suficiente para deixá-la tonta, deparou-se com um vulto de menino-moço em roupas bem postas. Ela parou, ele a olhou, ela sorriu, ele a cortejou, ela estremeceu, ele se aproximou, ela fugiu, ele a esperou. 
 E esperou enquanto ela se escondia da vã possibilidade de amor. Encostada na porta pensava no que fazer, para onde correr e no constrangimento de ser vista por moço tão nobre com aquelas vestes medíocres. Ela abriu a porta com receio, enquanto ele a olhava com um encanto absurdo que escapava pelo brilho no olhar. 
_ Ô Ana, porque fugistes de mim?
A moça ficou vermelha, se sentou num canto estreito do jardim e juntou as mãos em volta de seus joelhos. 
_ Olhe-me e digas que não sabes!
Ele acatou tais ordem e a olhou. 
_ Ouso dizer que não vejo motivos. 
E aquelas palavrinhas poucas e sinceras pareciam carregar alguma luz extremamente radiante para a mocinha. Ela enterrou a cabeça nos próprios joelhos, ele sentou-se lentamente ao seu lado e tocou os cabelos emaranhados da menina. Ao sentir tal toque ela pode conhecer às tão famosas borboletas que gostam de visitar estômagos. Levantou a cabeça aos pouquinhos e o olhou com medo. Não medo do moço, mas sim, medo do que sentia, inundada no desejo que ali surgia.
 Olhos já haviam se encontrado, mãos ela fez se encontrarem. Sorriram, desbravaram, admiraram e se amaram. [mas nada sabe-se do felizes para sempre]

Há de dissimular o dia
e com cobertas
clamar que é noite.
Crer que escuridão é opção
e clamar, açoite.

Há de desbravar veredas
que não se arriscam ao verde.
E falho estopim
adiará o fim.

Ausência


Engaiolei meu receio 
e aqui estou, após tanto anseio.
Perdoe-me por chegar sem avisar,
entrar sem convite ganhar.

Notei que muito mudaste,
aos devaneios tu alaste.
Outrora és a lástima que me consome,
mas vim aqui para lembrar-te do meu nome.  

Algo perdi por entre tanta promessa
perdi, pois tive de sair depressa. 
Cá estou para perguntar-te: 
viu algo que possa de mim lembrar-te? 

Perdoe-me, não posso detalhar
afinal, não tenho o que falar. 
Não sei o que está a falhar,
mas sinto falta de um certo pulsar. 
É… Bem aqui.
Triste tratar com desdém 
quem um dia lhe quis bem.
Rodopios e clarim,
calafrios no jardim.
Sorriu, de certo não para mim.
Sumiu, mas não era o fim.

Estopim.

Desejara tanto o meu batom, ser mais importante que o toque dos teus lábios. Preservar as sutis cores de minha boca, e por consequente preservar-me de futuros infortúnios. E as mãos… Ah! Estas deveriam ser intangíveis por lei. Com aquele suor que escorre das entranhas e pinga na pele macia que acalma, com o desbravar de terras tão miudinhas que escondem tantos tesouros. O carnaval já passou, meu bem. Findou o tempo do seja-lá-o-que-for, use daquelas tantas palavras. Triste é saber que sempre haverão estas páginas cada vez mais  amareladas para despertarem em mim essa nostalgia tão filha da mãe. Agora eu penso em desistir, mas sei que a noite vai chegar e eu, vou esquecer de mim. E sufocar no emaranhado de lençóis que exalam o teu perfume, e assolar estas malditas terras memoráveis que fizeram morada na minha mente. Olhos, ombros, fios e pés. Pés que esfriam quando deveriam esquentar. Olhos que veem tudo, mas não me enxergam. Ombros que insistem em me encarar. Fios que se bagunçam sem o meu toque sutil. Toque que acha que finge que nada quer, toque bobo que evidencia tudo que deveria camuflar. Teus ombros, como sempre me fitando, exclamaram para que eu fosse embora, para que eu desbravasse outros territórios, que teu coração [por mais que não parecesse] há muito havia sido encontrado. Teimosia. Fiquei. Mas não porque necessitava do brilho dos teus olhos ou das tuas declarações forjadas. Fiquei, pois precisava ficar. Pois algo que escapa à margem das explicações cabíveis fixou minhas raízes neste solo daninho e infértil. Me mandaste ir, mas fiquei. Porém não se engane, isso não quer dizer que eu te amei. A única certeza que tenho é a de que o meu batom borrei, mas minha alma não desmanchou.



Luz. Girassol. Girar. Despetalar. Bem-me-quer. Mal-me-quer. Bem-me-quer. Mal-me-quer. Mal lhe quer. Sorrir. Feliz. Afinal, lhe quer assim. 

segunda-feira, 19 de março de 2012

Quiproquó

Acreditara que valeria à espera,
mas sequer passou de uma quimera.
Ajoelhara-se almejando remissão 
de tamanha tolice, bobagem ou confusão. 
Enganos a florir mentes,
bobo a dissimular o que sentes. 
A mente que sente
ou a gente que mente?

sexta-feira, 16 de março de 2012

Cobiça.

Ah! Quem me dera ser como o céu
que está sempre fotogênico.
Quem me dera ser como sorvete
que você gosta até lamber os dedos.

Quisera ser o céu
ou a lua
nada de escarcéu
apenas tua.

Quem me dera ser como algodão
algodão doce
que você se lambuza inteiro
mas não abre mão.

Quem me dera ser uma flor
que espalha beleza e perfume
mas sabe a proximidade da dor.

Ah! Quem me dera ser como ela:
absurdamente linda
e eternamente tua.

domingo, 4 de março de 2012

Folgares Lascivos.

Podes bradar que a beleza acabou
Ou afirmar que existir, sequer, ousou
Entrega todo o mérito a sentimentos nocivos
Tais quais, estes malditos folgares lascivos

Minh’alma rendida a um impassível escarcéu
Ora cedo, ora tarde acabarás num mausoléu

Não há relógio ou café para marcar-te
Não se enganes, nada me parte.
À minha vista apenas tuas costas
Ainda há muitos ponteiros para trazerem respostas.

Perdoar-me vais, sei.
Habitudinário como ti está por nascer!
Gostas de enganar-se com um frugal sentimento belicoso
Quanto a mim, encanto há em tal sabor delicioso.

Pouco importa como engodar
todas as colunas tendem a dilapidar.
Sempre soube que de certo é o costume
E apenas um há de sair incólume.

Pacífico.

Quero a tua pele nua, quero mergulhar de olhos abertos num tremendo clichê. Quero o pseudo-amor da carne crua e me ver refletida numa parede de você. Quero os músculos exaustos do teu braço e o prazer que chega sem se ver. Quero o enlace do holocausto vívido, sem me sentir inerte a tudo que paira apressado ao meu redor. Quero muito, mas não tudo agora. Também não me encanta apreciar ao longe, quero entre meus braços para deleitar-me com o apreço da paciência. Dentre quereres vou me esguiando, esperando o que devia aqui já está. E nessa espera vou desejando, que venhas apenas quando estiver decidido a ficar.  

Notas de observação da desgraça alheia.

Nem sei desse mundo vã. Será que já adentrei-o alguma vez? Todos aqueles clichês de borboletas que visitam estômagos, de mãos que transpiram rendidas à aflição, de palavras que somem quando olhos se encontram… Será que já os senti de fato ou forcei-me a senti-los? Palavras bonitas e pessoas feias, que buscam retirar alguma beleza desse mundo dito belo. Mal sabem que o acontecido vem de dentro pra fora, mal sabem quanta dor carrega a decisão de permitir que algo saia de nós. Agora sentes e permite que coisas bonitas saiam de ti, em troca recebe coisas bonitas que saem do outro, e assim ficam por um tempo indeterminado, nessa troca prazerosa de beleza. Chegue cá e descubra que o belo também tem prazo de validade e com o tempo é preciso bem mais que isso. Com o tempo o feio, enciumado, decide sair também. E pessoas feias não querem receber mais feiura. Querem apenas o bonito com um toque de perfeição, mas ao invés disso, ganham o bonito misturado ao feio e simplesmente não sabem lidar com sua própria essência. E num ato mecânico de defesa decidem também liberar algo feio, afinal não podem se sujarem sozinhos. Desgraça em grupo é mais prazerosa, pois a fraqueza ganha força ao lado dos fracos. Começa com uma aparente troca positiva, mas logo passa a se mostrar como um jogo de azar. Ah! Mas afinal quem sou eu pra falar?

Ah! Girassol gira em busca do sol, e eu, posso fazer uma analogia clichê com este fato sabido.

Você costumava iluminar minhas manhãs nebulosas e esquentar minhas tardes gélidas. E o sol não deixa de ser sol só porque a lua o aprisionou num terrível eclipse. O eclipse tapa o sol, mas não os espasmos de lembranças que alegram-me o espírito. E aí quando ‘cê some sabe que eu giro [feito boba] atrás de ti. E nesse giros vou tonteando-me e trocando o gracejo por agonia. Oh meu bem! Não imaginas o aperreio que estou a passar… Aqui faz um frio de trincar os dentes amarelados, enquanto você brinca de se esconder atrás dos astros. Esse troço de gostar é de uma tonteira absurda, findo tola e ateada girando em busca de meu bem. Esse troço de girar não é lá muito simples, mas preciso banhar-me nas forças dos raios que de meu bem vem.

Reflexões Solitárias.

Cobra agora de quem ainda precisa de tempo. Deseja agora o que não está pronto para cair em tuas mãos. E diga que tem virtudes, e que uma delas é a calma. Grita rendido ao desespero do vazio, grita querendo que o balão venha sozinho e te leve pra voar. Dobra os joelhos crendo que te redimem dos pecados, quando usados pra rezar. E diga que tem virtudes, e que uma delas é a calma. Clama para a solidão, clama para que vá e esqueça-se de voltar. Mas com quem dançará, se ela se for? Para pra pensar e recomeça a gritar. Creio que sabes que gritos mudos não são ouvidos… Creio também que desejas vulgarizar toda a beleza da qual dispõe. Mas queres isto agora, e não podes. Todavia, lembre-se de dizer que tem virtudes, e que uma delas é a calma, mas que de nada vale sem antes acalentar a alma.

A Primavera de Vera.

As borboletas coloriam o jardim,
os pássaros cantavam feito um clarim.
Ela sorria, e sei que não era pra mim.

Primeiro primavera para Vera,
a minha vinha depois
tudo que quisera ser, já era
afinal não tinha pressa, pois…

Vera sempre aos dentes mostrar,
o rapaz sempre a pegando para rodopiar.
Ela, feito aspirante a bailarina
enquanto eu, desejava um pouco daquela morfina.

Aparentava uma adorável diversão,
poderia dizer ‘sim’ ou ‘não’.
Um incrível forma de colorir
que nada sabia de luzir.

Vera, ó pobre Vera!
Confesso que eu a invejava
mostrava o brilho da primavera,
mas agora sei da dor que carregava.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Pernas que entram no ritmo da vida.

Pernicioso e incolor
tira pra dançar com fervor
aceita transbordando louvor
adverte: "logo me vou".

Se vais, mas ficou
mera contradança!
Marcha fúnebre tocou
enfeitar também cansa.

Colorir, florir
olhos frios a luzir
pernas nuas a cruzar
destila-se o olhar.

Tempo de dançar
equivoca-se um amar
evoca-se um tentar
mas sabes, precisa declinar.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

As flores de plástico não vivem.

Padecer, eis o fardo
passou do tempo, mas não tardo.
Como vai? O que fazes?
Destilar saudades para fazer as pazes.

Eis o melhor jogador
que não joga com dados, e sim, com dor.
Me esforço, insisto
outrora és tão bom, que desisto.

Ouvir dizer que aposta alto
caso queira, desço do salto
mas deixe-me o ar
nesta festa, ainda há muito o que dançar.

Feito moça, feito palhaço
feito menina, que foi feita mulher
feito quem quer se perder nesse laço
feito quem finge que nada quer.

Parede de Hospício.

És branca, remete à falta
de cores ou de pintores.
És fria, tal como, alta
alicerçada em dores.

Aja lástima
ajam ouvidos
ajam palavras caladas
que não passam de zumbidos.

Pode agradecer

Meu bem, te agradeço
pela porta fechada,
por mentir com apreço,
pela vida flechada.

Falo de toda a atuação,
falo de toda a agonia
no meio-fio da aflição
quando tu me vias e sorria.

E te agradeço mais uma vez
pelas histórias mal camufladas,
pelo bem que tu me fez
crendo que amor, eram estrelas contadas.

Agradeço-te também
por ter ido com o vento,
mal nenhum aqui retém
apenas minh'alma ao relento.

Dispondo de permissão.

Me dou “bom-dia!”, um cafuné
me faço um café…
Me visito, pergunto como estou
minto pra mim, nada mudou.

Me dou um bolo
sem nenhum sabor.
Pairo cega
num mundo incolor.

Preciso explodir meu big-bang
pois um novo começo é urgente,
quisera ser de certo
mas tudo é muito vigente.

E eu, vi gente demais
que evaporaram sem mais.
Não sei se é desespero ou falta de ar,
mas preciso me visitar.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Preces de uma apaixonada prostituta puritana.


Que algum anjo bondoso me traga de volta, a certeza envaidecedora de saber que quando o escuro surgir, a sensatez desaparecerá.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Pingos de solidão.

É chuva para lavar a alma,
chuva para dançar com calma.
É chuva para querer pele juntinha,
mas chove, e eu, estou sozinha.

Sozinha numa roda cheia de gente,
sozinha num mundo tão pertinente.
Estou sozinha, ainda que em outros braços.
Equívoco-me! Busco em outros teus traços.

Buscando olhos que já viram demais,
buscando carinhos que confunde minha paz.
Buscando promessas que se fizeram minhas,
mas chove, e eu, estou sozinha.

Sozinha querendo apenas você,
sozinha me perdendo nesse clichê.
Sozinha querendo refrões ao pé do ouvido,
sozinha desejando o belo moço sumido.

Sumido sabe-se lá porquê.
Sei que sumiu, esqueceu-se de vir me ver.
Quisera ele aparecesse me chamando de pequenininha,
mas apenas chove, e eu, estou sozinha.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Comum da escuridão.

Olhos preciosos se fitam
pernas gélidas se cruzam,
cigarros quentes tragados
toda a sutileza usam.

Mãos túrgidas proibidas
Meu bem, acho melhor irmos devagar!
Adjetivos pairando no ar
desejos ali, à brotar…

Só mais um gole de café
que aquece, mas porque não você?
Entre as paredes há algo a fazer
é noite, a casa está só; apetece ser.

Abrandar-te-ei.
Abrandar-me vais?
Chegue cá e explore!
Explore tudo o que há.
Mas sabes: melhor irmos devagar.

Amiúde.

Meus pés e minhas orelhas não são muito belos, 
não são nada belos, 
mas ainda assim você tocou meus lábios, 
tocando minha alma 
e me falou coisas de amor.

Vez em quando, a felicidade derrama algumas lágrimas.

A felicidade poderia trair esta tristeza, que não tem face, mas tem nome e endereço. Que não me olha nos olhos, mas me ver de todas as formas possíveis, me ver, mas não me enxerga. Nunca quisera me perceber, me cuidar, me dá o deleite de ser chamada de tua… Mas teve o que querias, me teve. Não de todas as formas possíveis, mas da forma que sempre quis a todas as outras. Os refrões poderiam ser compostos de sorrisos, mas me apetece que infelizes-lembranças-felizes os componham. Certas ruas seriam dotadas de beleza, das flores, das cores e dos prédios, mas me apetece que sejam dotadas de passos agridoces, que se confundiram com doçura no meio-termo da avidez. Os dias deveriam ser ensolarados, emanando raios de alegria, mas me apetece que sejam dias chuvosos, que impossibilitam que levantemos da cama e lutemos com mãos fogosas para que a estadia neste palco vão, seja suportavelmente agradável[…] Tudo é questão de se permitir, e digo-te com toda a convicção que me for permitida: Se tu soubesses a dor que causa, jamais se permitiria amar.

Cher.

Tu decidiste voo alçar
e esqueceu-se de me avisar.
Mas se acanhe não
que o lado esquerdo da cama tem bom coração.

Numa noite triste de sexta
contou-me que tu me fez de besta.
Capturou todo o amor deste peito surrado
e deixou foi um frio arretado.

Mas se acanhe não
não partiste meu coração.
Um frio arretado no lado esquerdo da cama…
mas saiba que meu coração ainda ama.

A cama ainda tá fria,
mas se acanhe não!
Apenas lembre de mim como:
‘a menina que sorria’.

A parte mais fácil: o fim.

A ausência era presente,
quem esqueceu da gente?
Fora o jardim que cresceu com demasiada pressa?
ou nos perdemos entre tanta promessa?


Meu corpo ainda se contorce,
à espera do teu.
Minha mente ainda necessita
do pouco que um dia tu me deu.


O som que invade a sala,
deriva de tuas mãos e não cala.
O café, como sempre, amargo
tomado em noites tão sozinha, que largo.


Meu amor, agora póstumo
sem canções, apenas me autoconsumo.
Venha cá, venha me dá um prumo.
Venha cá, venha mostrar-me um rumo.


Tu fostes, sei que não há solução.
Tu fostes, mas a culpa foi minha não.
Quisera ser um quiproquó.
Quisera ainda está no enlace do teu paletó.

Solitário e demodê



A porta é rotatória,
o café é quente.
As paredes são brancas,
e a companhia, inexistente.

Quando finda a paciência.


[...]

Podes encontrar o que bem quiseres.
Mas se quiseres, meu bem,
também podes me encontrar.

Me convide para um café,
vamos relembrar!
Quem sabe, por ventura…
você goste de ficar?!

Fobia a noites solitárias.

A escuridão sempre dominou as noites,
mas vez ou outra certa luz-não-fluorescente emanava.
O frio estava sempre presente,
mas vez ou outra de cobertor não precisava.

Deito-me, remexo-me, fecho-me.
Os olhos e o peito.
Foi-se o amor, foi-se o trejeito.
Foi-se tudo, até o ordinário sujeito.

Escuro e cada vez mais
o corpo frio a soar
Zé, cabou-se a paz
é hora de os olhos abrir e sufocar.

Na precisa precisão de certa mão buscar
na danada decepção de nada encontrar.
Um vazio! Heis tudo que me há.
Cadê o ordinário? Cadê meu ar?

Mesmo assim dormimos.

As flores, antes belas
agora estão despetaladas.
Os homens que “amavam elas”
abandonaram-as peladas.

Os pequenos aquecidos em um útero materno
em esquinas frias choram,
crescem para serem subalternos
e nas ruas, desde sempre, moram.
Mesmo assim dormimos.

O café esfriou,
a vida desandou,
o amor acabou
e as dez ninguém voltou.

Onde está a paz?
É você ou ele que trás?
Enganar-se jamais,
o caos sempre aqui e no cais.
Mesmo assim dormimos.

Mesmos assim esperamos,
mesmo assim, os braços cruzamos
mesmo assim, só por nós choramos…
Mesmo assim amamos?

A melhor (e mais desesperada) fuga.


Me pegue pelos dedos e me tire!
Me tire daqui, me tire pra dançar.
Já que é você, basta me tirar.

À beira de um abismo ridiculamente romântico.

As mãos, antes intangíveis, agora transpiravam rendidas à aflição de encontrar um par. Acabara de descobrir um novo céu; onde nuvens e estrelas perdiam toda a grandiosidade, se comparadas ao sol que se refugiava no castanho-escuro daquele par de olhos estreitos. A calma pegou estrada, levando a sensatez consigo e tudo, simplesmente tudo, caía nos encantos de uma insensata aflição. Outrora haveriam dezenas de coisas capazes de suscitarem o que era esplendor, mas nestes estranhos tempos de amar, a resposta era clara e exclusiva. Doara anos de sua vida a crer que casar era uma bobagem tremenda, e casar por amor, pior seria. Bem mais encantador ganhar o título de amante, afinal era apenas isso. Tanto em namorar, como em casar ou em trair, tudo se resumia a títulos. Sabias que se o sentimento fosse recíproco, títulos seriam desnecessários, pois a fidelidade seria de certo. Não queria alguém para presentear chamando de “marido” e em troca ouvi-lo a chamar de “esposa”. Queria amar, somente isso. Queria mergulhar numa imensidão de amor puro e mundano. E o fazia. Mas pensando por alguns segundos… percorrera um longo caminho até a beira do abismo e não queria que o fosse em vão. A um pé de se render, que mal tão medonho poderia haver lá no fundo? Nunca foi desejar, preferia descobrir. - então disse um suave “sim” ajeitado em sua voz serena, pegou o amado pelas mãos ávidas e juntos, foram desvendar os mistérios desse abismo.

Generalizando à maestria masculina.

Fechava os olhos e se perdia numa das introdução esplêndidas de uma música do Pink Floyd. Desta vez não havia Russian Red para embalar cada lágrima que encontrava, por teimosia, o chão. Desta vez não haviam lágrimas. Sabias que ser boba era equívoco extremo, e tentara de toda alma não o ser. Mas o moço a pegava pela mão, a rodopiava noite adentro. A tocava com cautela, com carinho, talvez… Selava-lhe os lábios e falava em gostar. Entregava madrugadas à conversar com a dama, pedia para que se cuidasse. Iniciava discussões para ganhar beijos por fim. Rendia-se aos meios modernos de comunicação, para sabê-la a todo instante possível. Cantava-lhe belas canções, até mesmo francesas e sempre a olhava nos olhos. Contava quão vital era a aprovação da moça, para sua nova canção seguir gravação. A convidava para lugares extraordinários, ainda que soubesse que ela não poderia acompanhá-lo, mas insistia, pois queria sua companhia. Falava em viagens a sós, sem rumo. Andava com a moça sob seus pés, a sorria, a amava, a fazia mulher. E a dama forte, fez de um tudo para não render-se à aparente romance. Mas com tantos sinais, era inevitável que não ficasse prestes a despencar nesse abismo multicolorido. Pensava estar em segurança, “mero gostar” repetia para si mesma e acreditava em tal. O tempo arrastado levou consigo os rodopios, as canções, as aprovações, os convites, as madrugadas, o corpo envolto em chamas esquentando as madrugadas… Nada restara. Vei-se então um aperto no peito, umas lembranças inadequadas e uma vontade de voltar. Voltar e admitir que gostava e não era pouco, que amava canções ao pé do ouvido e encantava-se tão facilmente pelos toques que deveriam ser proibidos em público… Vei-se a constatação de que gostava e poderia viver muito bem com a falta. Certo que com a presença os dias seriam mais coloridos e amáveis. A moça tentou, e até ousou, crer que apenas gostava, mas depois notou quanta falta sentia e não a culpem. Ela foi mais forte do que todos esperavam. Culpado fora ele que dera todos os sinais de um gostar recíproco, mas foram apenas sinais, nada de certezas.

-


Vais e lembra de fechar a porta. Não, desta vez não irei implorar para que fique e me aqueça em noites fogosas. Decidiste ir, então vais! Mesmo antes do princípio, sempre fui de me render aos encantos da minha sinceridade para comigo mesma e não abdicarei de minhas crenças para segurar o ar dentro de meus pulmões.
Quer me amar? Permito e prometo reciprocidade.
Quer me arrancar sorrisos? Me olhe!
Quer me fazer bem? Fica.
Quer que eu sinta menos? Ah, então vais!

Errar é desumano.

Dei por mim em um cafofo macio, estofado e cheirando a lavanda. Não vi sua cor, tampouco se era belo, mas senti. Senti um aconchego imenso, um desejo de me bordar àquele tecido macio, que não tinha vida própria, mas me passava uma calma indescritível. Senti que ainda iria sentir aquele perfume uma par de vezes, perfumando até mesmo um quarteirão inteiro.
Aquele cafofo meio tropeço e desconcertado, parecia o lugar perfeito para passar o resto da minha vida. Mas apenas parecia. Quando dei por mim pela segunda vez, apenas me vi dentro do abismo.
Equivoquei-me!
Confundi o fundo do poço com refúgio.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Tudo mudou...

O rouge virou blush. O pó-de-arroz virou pó-compacto. O brilho virou gloss. O rímel virou máscara incolor. A Lycra virou stretch. Anabela virou plataforma. O corpete virou porta-seios. Que virou sutiã. Que virou silicone. A peruca virou aplique… interlace… megahair… alongamento. A escova virou chapinha. ‘Problemas de moça’ viraram TPM. Confete virou MMs. A crise de nervos virou estresse. A purpurina virou gliter. A tanga virou fio dental. E o fio dental virou anti-séptico bucal. Ninguém mais vê: O à-la-carte porque virou self-service. A tristeza agora é depressão. O espaguete virou miojo pronto. A paquera virou pegação. A gafieira virou dança de salão. O que era praça virou shopping. A areia virou ringue. O LP virou CD. A fita de vídeo é DVD. O CD já é MP3. É um filho onde eram seis. O álbum de fotos agora é mostrado por e-mail. O namoro agora é virtual. A cantada virou torpedo. E do ‘não’ não se tem medo. O break virou street. O samba, pagode. O carnaval de rua virou Sapucaí. O folclore brasileiro, halloween. O piano agora é teclado, também. O forró de sanfona ficou eletrônico. Fortificante não é mais Biotônico. Polícia e ladrão virou Counter Strike. Fauna e flora a desaparecer. Lobato virou Paulo Coelho. Caetano virou um pentelho. Elis ressuscitou em Maria Rita. Raul e Renato. Cássia e Cazuza. Lennon e Elvis. A AIDS virou gripe. A bala antes encontrada agora é perdida. A violência está maldita. A maconha é calmante. O professor é agora o facilitador. As lições já não importam mais. A guerra superou a paz. E a sociedade ficou incapaz. De tudo. Inclusive de notar essas diferenças. (Luís Fernando Verissímo)

sábado, 7 de janeiro de 2012

Epifania. (sentir)

Afinal, gostar é isso, não é?
Ser livre para correr aos braços de quem quiser,
e ainda assim só desejar a um certo par. 

Desencanto por Romeus.

Largue de tonteira, homem! E sim, isto é uma ordem. Veja só como o tempo nos fez íntimos, nem me resta o receio de falar algo que soe como manipulação. Nem me importo que não goste de ordens… O que me importa mesmo, é arrancar da tua mente essa ideia absurda de que não me serves. Tu me serves como nunca achei que fosse possível. Tu encaixou-se em mim de um modo infatigável. Sei que soa clichê, mas o medo de parecer piegas demais, também é algo que perdi com tamanha intimidade. Achas que eu perderia todo o receio que tenho se estivesse vivendo com um Romeu? Só tu consegues me proporcionar conforto tamanho, conforto o suficiente pra ser quem sou. Pra mostrar tudo que compõe a minha essência, um tanto prolixa, confesso. Sei que vez ou outra, te parte o peito não poder me dar o tanto de presentes que achas que mereço, mas digo-te com toda a certeza que me é permitida: enquanto tu estiveres ao meu lado, me dando todos os mimos e afagos possíveis, nenhum presente do mundo vai ser mais valioso. De que me valeriam vestidos caros e jóias raras, se não tivesse teus beijos pela manhã ou tua voz arfada nas noites frias? Quero apenas a ti e não a tudo que queres me dar. Ah! E também não desejo o homem mais robusto e de grande porte desfilando ao meu lado, não. Esse bobo romântico e meio careca já me serve, afinal é a ele que amo e que quero estar sempre perdida entre os braços magrelos. Lembre-se disso viu? Eu te amo e também amo teus braços magrelos. Não vá encher-se de desvaneios quando por acaso eu viro o olhar a algum cara musculoso que passa do outro lado da calçada. Mas até acho bonito te ver cheio de ciúmes, encolhendo o peito quando falo em outro rapaz. Repito, deixe de pensar bobagens! Nunca fui fã de romances perfeitamente lapidados, sabes do meu encanto pelo imperfeito. Nunca fui dessas moças que passaram a juventude inteira esperando o príncipe encantado para levá-la a um ‘felizes para sempre’. Nunca suspirei de encanto lendo esse romances épicos… Gosto de contos atuais, onde você aceita a ideia de abandonar-se na vida de outra pessoa, mesmo tendo plena consciência de que mais cedo ou mais tarde, por um motivo pouco importante, iram separarem-se. Quando te peço para ficar assim para sempre, sabes que não implico por algo infindável, apenas te quero no para sempre que ouse durar a reciprocidade dos nosso sentimentos. Sei que um dia acabará, mas enquanto meu peito clamar pelo teu refúgio, largue a tonteira e me pegue em seus braços. E me ame como se não houvesse amanhã, pois feliz ou infelizmente, talvez não o tenha de fato.

Desperdício de uma vida pouco usada.

Aos olhos de Olga, qualquer espaço pequenino entre os cômodos do velho apartamento facilmente se convertia em um refúgio encantador. Ócio era tudo que coloria os dias solitários da moça, então parar em um lugar apertado e pouco cômodo, apetecia perfeitamente à ela. Parava e pensava. Suspirava e se rendia. Se rendia ao brilho no olhar, derivado das nuvens onde sua cabeça batia. Daí o mundo ficava belo, simplório por demais, porém ainda assim extremamente belo. Perdia-se:

'Havia um jardim florido, e Olga acordava cedo todas as manhãs para regar às plantas e passear com o seu cachorro. Uma, duas, três voltas na pracinha miúda e simpática que havia a duas quadras da sua casa. Ela voltava e o moço ainda dormia feito anjo, ela queria beijá-lo, acariciá-lo… Mas tinha receio de acabar com toda a beleza que se fazia presente ali, quando aquele anjo fechava os olhos e descansava por alguns instantes. Ela o apreciava por pouco tempo e resolvia preparar um café-da-manhã digno de um homem tão bondoso quanto aquele, que aceitou dividir sua vida com a da própria Olga. Ele sabia que ela era fria às vezes, sabia que pela manhã os cabelos dela estariam volumosos e sem brilho, sabia que nem todo dia ela iria acordar com um sorriso no rosto. Sabia também, que apesar de ser calma, algum dia ela iria se render a agonia e gritá-lo. Sabia que iriam discutir uma ou muitas vezes, mas ainda assim aceitou ficar ao lado dela por tempo indeterminado. Pra sempre talvez… Enquanto ela tirava o bolo de fubá do forno, o moço aparecia sorridente na porta da cozinha, se aproximava e a tocava os lábios. 
_ Olguinha, meu bem! 
Ele a abraçava e a enchia e beijos. O dia inteiro era passado assim. Transbordando afeto, carinho, alegria… Às vezes assistiam filmes épicos, plantavam flores no jardim do quintal, brincavam com o cachorro e logo teriam um filho. Para ensiná-lo a arte de ser feliz. Sem luxo, sem palácios ou sem fama. Ensinariam ao pequeno como fazer de tudo um motivo para ser feliz.' 

E então o vento fazia os galhos da árvore velha baterem na janela, fazendo barulho suficiente para tirar Olga do seu mundo ideal. Ela despertava do transe de sonho e sorria. Sorria sem nenhum motivo aparente. E seguia sua vida repleta de tédio, recheada de nada. Ela não tinha par, não tinha cachorro, jardim ou filho. Tudo que Olga tinha, era uma mente. Uma mente que vivia perdida dentro de si. Correram-se alguns anos e as tardes da moça sucediam-se da mesma forma. Ocorreu que nas noites ela saía, dançava, tomava um café e voltava para seu apartamento. Mas logo conheceu um moço. Casaram-se, mas não moraram em uma casa com um belo jardim no quintal, não tinham um cachorro, Olga não acordava cedo e filhos não estavam por vir. 
Tanto tempo de sua vida, Olga dedicou a sonhar e agora de que valiam? A ingenua moça achava que sonhar, traria a condição de tornar real em um futuro não muito distante. Equivocou-se. Antes sonho, agora apenas frustração. Mas como toda boa moça com um bom coração, ela ainda deixou uma lição no fim de sua história. 
Um sonho, só será para sempre perfeito, se jamais for concretizado.
Pode até parecer tolice, mas o bonito do sonho é poder sonhar. É se perder em um universo inexistente e saber que, trazê-lo para a realidade não vem com a garantia de que será tão belo quanto em mente.  Mas ela ainda foi feliz, mesmo sem sonhos concretizados. Ela tinha um par e certos aspectos do sonhos até copiaram-se na realidade. Ela tinha afeto, carinho, amor… E seu amado a chamava de Olguinha em algumas manhãs. A moça sonhou, enquanto era tempo de sonhar. E também soube viver, enquanto era tempo de viver. Eis a solução.