domingo, 25 de dezembro de 2011

Aflita Calmaria

[…] Enquanto pintava os lábios de vermelho-sangue, pensava em qual caminho seria mais longo até chegar ao velho bar do centro da cidade. Sim, o bar que lhe trazia tantas memórias. Um último toque nos fios de cabelo e a moça saía de casa cambaleante e um tanto quanto dispersa. Largou a chave do carro sobre o sofá e decidiu que andar seria mais propício, colocar as idéias em ordem enquanto o vento lhe soprava os cabelos… Seus pés sujaram-se um pouco, pois respingos d’água surgiam, enquanto ela pisava em poças, que restaram da chuva do dia anterior. - Tantas vezes já traçara àquele caminho, mas engraçado; ora era tão colorido, ora se perdia em preto e branco. Talvez faltasse certa companhia, para tirar-lhe sorrisos involuntários, protegê-la do frio de ruas escuras, ou até mesmo, tentar em vão irritá-la… Chegando, empurrou a porta rotatória e hesitou por alguns instantes. Ela sentou-se na mesa de sempre, pediu o drink de sempre, apreciando o blues que sempre tocava ali e esperou. Talvez a companhia fosse, como de costume, a de seu amante que lhe aparecia em encontros tão casuais! Algumas vezes ela já reclamara de viver um meio-romance, repleto de talvez e de incertezas, mas naquele instante ela não se preocupava com quão efémeras eram sua relações. Talvez ele surgisse do vento ou nunca chegasse nem à porta daquele lugar. E ela? Ah, ela esperava… 

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