sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Incurável.

Talvez esta seja a lembrança mais lúcida de minha vida, apesar de eu estar em puro êxtase. Não sei ao certo como explicar de forma coerente, mas até é bobeira tentar achar coerência num romance como esse. Ele acabava de acordar, saiu da cama pra se jogar sobre o sofá da sala e me observar fazer panquecas para nós dois. Virei meio de lado e sorri pra ele, que me retribuiu com aquele sorriso torto que eu amava mais que tudo. Decidimos não ir à faculdade naquele dia, preguiça, falta de disposição, amor demais… não sei ao certo. Mas as cobertas e o velho carpete da sala pareciam bem mais convidativos que o campus. Ligamos a TV num canal qualquer, enquanto conversávamos sobre insetos. A conclusão foi de que as borboletas são extremamente belas, mas os vaga-lumes são bem mais encantadores e acabam por se tornarem mais belos. Mesmo sendo tão pequenos, conseguem com toda a sua humildade iluminarem os lugares por onde passam. E num súbito, aquele cara bobo que dividia cobertas e pensamentos idiotas comigo, disse que eu era o vaga-lume mais precioso que ele já encontrara, que além de ter todas as qualidades desse inseto eu era dele e isso era o que mais o satisfazia e o tirava sorrisos tão involuntários. Para relutar contra o romantismo piegas do qual eu preferia manter distância, disse que na condição de vaga-lume eu gostaria de ser livre e iluminar a vários outros lugares. E sem deixar se abalar por meus contra-argumentos, ele disse que mais do que iluminar a um lugar, estando ali, eu iluminava a uma vida inteira. Insisti mais um pouco contra o pieguismo, mas foi em vão, sabia que não o abalaria. Ele me fitava com aquele olhar de quem podia enxergar minha alma e meu corpo desejava o dele,eu queria ser possuída pelo dono daquele olhar marcante, forte e perturbador, que me desconcertava por inteira. Já havíamos feito amor em todos os lugares daquele pequeno apartamento e novamente decidi despertar os instintos dele ali naquele carpete surrado. Logo já estávamos despidos e entregues ao calor de dois corpos que emanavam desejo e paixão. Durante uma juventude inteira fomos felizes, vivendo no que parecia ser o menor lugar do mundo, mas o único capaz de abrigar aquele amor tão vagabundo e sorrateiro. Aquele cara me proporcionou os sentimentos mais intensos deste mundo e não importa como tudo acabou. Não me importa a forma como o nosso amor se foi juntamente com a nossa juventude. Jamais precisei negar a mim mesma que aqueles foram os tempos mais felizes e extremos de minha vida, eu ainda penso nele e sei que ele também pensa em mim. E quem sabe um dia nossos pensamentos não se cruzem numa esquina qualquer junto com os nossos corpos?

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